Páginas

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estudantes ´brincam de peia´ na hora do recreio



Violência - Publicado em 30 de novembro de 2011 

Escola tem segurança armada há dois anos; para especialista, medida é antipedagógica e prejudicial aos alunos

Às 15h30, toca o sino da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental e Médio Frei Tito de Alencar. É a hora do recreio. Neste momento, crianças saem correndo pelo pátio e o grito que se houve é um só: "Vamos brincar de peia, vamos brincar de peia".

Embora o colégio seja um ambiente educacional e de formação, é lá dentro que os alunos mostram, em suas brincadeiras, o que vivem dentro de casa e na comunidade.

A unidade escolar possui 1.100 alunos, na faixa etária de 4 a 17 anos, e há dois anos tem sua segurança feita por quatro homens armados, pertencentes a uma empresa privada.

A pedagoga responsável pela escola, Maria Jurandir Carneiro, explicou que nunca fez nenhuma solicitação desta natureza à secretaria Municipal de Educação (SME), e que foi o órgão que enviou os quatro seguranças para o colégio devido à violência do entorno.

"Aqui, não sofremos nenhuma ameaça por parte dos alunos, mas a comunidade que nos cerca é bastante violenta. Semana passada, o padrasto de um aluno foi assassinado", disse.

Jurandir conta que a violência vivida dentro da escola é de outra natureza, são dos próprios alunos contra eles mesmos, são as depredações ao patrimônio escolar, como pichações, além do repasse e consumo de drogas.

Hoje, não é permitida a saída de mais de um aluno da sala de aula para ir ao banheiro. A medida veio após a denúncia de que estava havendo o uso de drogas dentro do local. "Porém, essa estratégia não é totalmente eficaz, pois não temos fiscais dentro dos toaletes", explicou.

Jurandir conta que, muitas vezes, separou alunos que estavam trocando chutes e murros. "Porém, quando eu cheguei lá, eles me olharam e disseram: ´calma tia, a gente tá só brincando de peia´", lembra.

A medida tomada pela direção da escola para diminuir esses episódios foi dividir os horários do recreio. Antes, eram todos juntos. Agora, os alunos do 6º ao 9º ano têm um intervalo às 14h40, e os alunos do infantil ao 5º ano, às 15h30.

"Fora isso, abrimos nossa sala de informática no recreio para que eles possam se distrair de outra forma, assim como estamos passando filmes dentro da biblioteca", diz a responsável.

Problema social

Para a coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), Margarida Marques, a atitude da SME de colocar segurança privada e armada na escola é antipedagógica.

"Primeiro, eles (as instituições) não têm uma formação que os prepare para lidar com as crianças adolescentes. Além disso, se nós começarmos a colocar seguranças nas escolas para resolver a violência, nós vamos estar desvirtuando o lugar que a escola tem na sociedade, que é de tratar e discutir", explicou.

Margarida acrescentou que tem de existir um diálogo com a sociedade e com as famílias. "Este não é um problema só das escolas. É preciso uma presença maior do Estado na comunidade e resolver o problema do entorno", acredita.

A opinião do especialista
Ambiente é alvo fácil

Não é de surpreender que numa sociedade em constante crise ética e familiar, que vê a intensificação de condutas narcisistas devido a uma cultura individualizante, ocorram cada vez mais casos de violência nas relações sociais e nas escolas. A presença de atos perversos nas instituições de ensino chega por meio do bullying e da agressão física, a essa é acrescida a crise motivacional dos alunos, a crise de identidade profissional do professor e as patologias que aparecem em consequência: o estresse e a síndrome de burnout. Fica, portanto, o espaço escolar como um local onde os laços sociais não se construam de forma saudável.

A transgressão e a rebeldia sempre foram características da pré-adolescência e da adolescência. As escolas sempre souberam disso e aprenderam a lidar com essa realidade. Atualmente, a rebeldia dos jovens se soma à falta de politização, a uma ausência de um sentido na vida e a uma ênfase exagerada nos próprios problemas. O jovem vive o seu mundo como se só existisse ele, qualquer obstáculo ao seu desejo de prazer é tratado com revolva e agressividade que muitas vezes pode transformar-se em violência, uma violência sem sentido, sem foco, uma linguagem sem direção - é a rebeldia pela rebeldia - uma agressividade anárquica.

Crianças e adolescentes com o perfil de revolta descrito, possuem tendência a ter uma rebeldia extremada, ser violentos com todos, ser bagunceiros, depredarem o patrimônio público e ser apáticos em relação as suas obrigações. Nos colégios, têm comportamento anti-escola, canalizam sua insatisfação com o mundo para lá por ser essa a instituição social mais fácil e próxima de ser agredida, sendo seus colegas e o patrimônio os alvos prediletos, além dos professores, as autoridades sociais mais fáceis de ser atingidas.

A superação dos conflitos na escola é possível, apesar das características da sociedade contribuírem para dificultar o processo. Resgatar a autoridade do professor é um passo importante, uma autoridade legítima, com credibilidade, autonomia e respeitado no seu conhecimento. Ter um ensino de qualidade e uma disciplina escolar rigorosa, mas dialogada, ajudam bastante.

Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, psicólogo e mestre em Educação

THAYS LAVOR
REPÓRTER

Governo e Sindicato fecham proposta


30.11.2011| 01:30

À revelia da resistência de parte da categoria, o Governo do Ceará e o Sindicato dos Professores (Apeoc) consagraram ontem o desfecho de um traumático ciclo de negociações. Em reunião no Palácio da Abolição, as duas partes fecharam a proposta que será encaminhada à Assembleia Legislativa, com previsão de 15% de aumento para os profissionais – sendo que metade será pago este ano e a outra parte em janeiro de 2012.


Hoje, Secretaria da Educação, Procuradoria Geral do Estado e Secretaria do Planejamento e Gestão se encontram para elaborar a matéria. A intenção do Executivo é que a proposta seja votada na Assembleia em dezembro.


Segundo uma das dirigentes da Apeoc, Maria da Penha, o clima do encontro foi tranquilo. A proposta inclui, ainda, gratificação adicional de 10% para professores com mestrado e de 30% para os que possuem doutorado. O Governo também prevê aumento progressivo da parcela dos recursos do Fundo da Educação Básica (Fundeb) destinada ao pagamento de salários.


Embora a Apeoc considere positivo o fim das negociações, parte da categoria – sobretudo na Capital – é contra a conclusão das negociações. De acordo com o professor Airton de Farias, a principal reivindicação da categoria não foi acatada: repercussão do aumento salarial em todos os níveis da carreira. (Hébely Rebouças)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Deputada quer ONGs gays em escolas


Terça, 29 de Novembro de 2011


Pelo projeto de Ana Paula Cruz, grupos militantes fariam atividades com estudantes sobre bandeiras do movimento homossexual


A Assembleia Legislativa votará esta semana o projeto de lei da deputada Ana Paula Cruz (PRB) criando a Semana de Combate à Homofobia nas escolas cearenses, durante a qual os estudantes participariam de debates com grupos gays sobre o Projeto de Lei 122 e outras bandeiras da militância homossexual.
A ideia é promover nas instituições de ensino atividades relativas à agenda gay, com a participação de Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras entidades da categoria de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, abordando, segundo Ana Paula, “temas de grande relevância para o segmento LGBTT, assim como o Projeto de Lei 122/06, que trata da criminalização da homofobia no País, além de bullying e homofobia na escola”.
Na justificativa do projeto, Ana Paula afirma que a criação da Semana de Combate à Homofobia “é de suma importância, tendo em vista a necessidade de aproximar os estudantes das discussões acerca do tema”. Também será votado na Assembleia outro projeto de lei da deputada, este fazendo de 2012 o “Ano de Combate à Homofobia no Ceará”.

O PL 122

De autoria da ex-deputada federal Iara Bernardes, do PT de São Paulo, o Projeto de Lei 122 foi aprovado em 2006 na Câmara dos Deputados, mas, chegando ao Senado, passou a enfrentar forte resistência, sobretudo dos parlamentares religiosos.


O projeto havia sido arquivado no começo deste ano, depois da derrota eleitoral de sua relatora, a ex-senadora Fátima Cleide, do PT de Rondônia. A senadora petista Marta Suplicy (SP), contudo, conseguiu desarquivá-lo e trabalha para aprová-lo.

O PLC 122, em seu artigo 16º, prevê prisão e multa a quem praticar “qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica” contra os homossexuais ou a homossexualidade.
O artigo 8º condena à prisão quem “impedir ou restringir a expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público” e quem “proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos”.


Colégio Evolutivo anuncia fim das atividades, após 31 anos


A marca Evolutivo também está sendo posta à venda e grandes escolas já estão interessadas em absorver alunos

29.11.201101:30


A Organização Educacional Evolutivo anuncia o fim das atividades para 2012. Ontem, o presidente da organização, professor George da Justa Feijão, declarou, via redes sociais, que o Colégio Evolutivo não mais abrirá matrículas em 2012. O anúncio foi feito 15 dias após a notícia do fechamento da Faculdade Evolutivo (Face).


A Faculdade e as duas sedes do colégio possuiam cerca de 2,2 mil alunos, que devem migrar para outras instituições educacionais. O professor George deixa claro que não se trata de um caso de falência, pois todos os compromissos financeiros serão administrados. No entanto, admite que a relação entre custo e faturamento estava descompensada. A inadimplência, segundo o professor, estava em torno de 50% das matrículas.


“Não estava mais compensando financeiramente. Eu precisava de um aporte financeiro significativo. Fui até onde eu pude. Como as coisas só tendiam a piorar, preferimos não continuar. Não há interesse em prosseguir, mais um ano nessa relação em que não se recebe”, explicou George ao O POVO por telefone.


Desde a sanção da Lei nº 9.870, de 1999, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, não se permite a aplicação de penalidades pedagógicas ao aluno inadimplente.


As atividades da organização vão até fevereiro, período de transferência dos alunos e de desligamento dos professores e demais funcionários, além da administração das dívidas. “Dívidas existem, mas tem muito a receber de valor também. A empresa não faliu. Haverá gestão do passivo da escola’, reitera o presidente da organização.


Entre o tempo de professor e aluno do Evolutivo, Paulo Lira, 42, soma quase 29 anos. Ele lamenta o sofrimento dos proprietários para tentar manter a escola aberta. “É com muita tristeza que a gente vem acompanhando, nesses últimos três anos, o esforço de tentar honrar os compromissos. É uma escola idealista, que enfrentou muito essa inadimplência. A gente (professores) chegou a segurar seis meses de salário atrasado”, comenta.


Pela Internet, o economista Anderson Passos Bezerra, 26, soube do fechamento do colégio. Cursou o antigo “ensino médio” por lá. “Dá uma certa estranheza, pelo tamanho que era. Tinha o mesmo ritmo dos grandes, aula de domingo a domingo. Não ficava a dever em nada. Os professores ensinavam em outros grandes colégios também”, lembra o ex-aluno.


Uma característica das instituições era a concessão de bolsas de estudo. Bezerra lembrou de um período em que cerca de metade dos alunos tinham bolsas integrais. “Para o ensino de muita gente, foi um marco”, avalia.


Alunos para o Christus


O professor George foi procurado por escolas interessadas em absorver os estudantes do Evolutivo. “Os alunos estão preferindo ir para o Christus, que está dando uma certa atenção e algum tipo de desconto”, informou.


As transferências já tiveram início. Em 1980, surge o Colégio Positivo, que passou a ser Colégio Evolutivo, em 1992. Chegou a ter nove sedes em Fortaleza e 15 mil alunos no mesmo ano, destacou George Feijão, que tem 41 anos de atuação na profissão de educador, 31 dos quais à frente do Evolutivo.


ENTENDA A NOTÍCIA
Escolas com características sociais, preços menores e direcionados à classe C vem fechando em Fortaleza. A inadimplência torna o negócio impraticável. Aumenta a responsabilidades das escolas públicas e das privadas que sobram no mercado.

Serviço

Informações sobre documentos, transferência e tira-dúvida para alunos: Horário: de 8h às 18h
Contato: (85) 4008.8228, número telefônico da Secretaria do Colégio Evolutivo.

Desabafo


O professor de matemática e presidente da Organização Evolutivo, George Feijão, detalha os motivos do encerramento das atividades das instituições de ensino, das quais esteve à frente por 31 anos.


Fim de uma era
As pessoas sempre querem analisar as coisas pelo resultado final. Isso é o resultado de uma nova era. O que foi o sucesso do Evolutivo? Ausência da escola pública na década de 1990. Fazíamos educação classe A para a classe C. Diante dessa chance única, nos sentíamos na obrigação de pagar, tínhamos respeito. A escola pública deverá ocupar o espaço que já deveria ter ocupado.


Educador, sempre
Tenho que conduzir essa escola, pelo menos, até fevereiro. A partir de fevereiro, sou um cara desempregado. Talvez seja até um ano sabático. Os dois últimos anos foram muitos sofridos. Tenho duas certezas: Nem vou ser mais empresário, nem professor. Mas educador continuarei sendo sempre.


Escola para classe C
Sempre existiram boas escolas para os ricos, mas nunca existiu uma escola para a classe C. O Evolutivo venceu por um longo período. 


Inadimplência
É alta porque as pessoas não tem obrigação de pagar. O calote é oficial. É avalizado pelo governo. Eu não posso, como educador, descumprir uma lei. Muitas escolas, como Marista, Dorotéias e Estella Maris, que possuíam um aspecto social ou eram voltados para a classe C, fecharam. A margem entre o custo e a mensalidade é pequena. Sobre isso, a inadimplência é cruel. 

Andreh Jonathas
andreh@opovo.com.br

Transporte irregular mata três estudantes por ano no Ceará



Na carroceria de caminhões velhos e inseguros, alunos, a partir de sete anos de idade, correm riscos a caminho da escola. Situação é igual na maioria das cidades do Interior

29.11.201101:30


Em dez anos, 27 estudantes morreram em decorrência de acidentes de veículos de transporte escolar no interior Ceará, a maioria em veículos conhecidos como “paus de arara”

No mesmo período, os acidentes deixaram 210 crianças e jovens feridos. São 2,7 mortes e 21 feridos a cada ano, entre 2001 e 2010. Este ano, morreram três estudantes e 30 ficaram feridos, em dois acidentes no Interior do Estado.


O levantamento, a partir de matérias publicadas no O POVO, não leva em conta os estudantes que podem ter morrido após os acidentes, devido aos ferimentos – graves, em muitos casos. Os registros referem-se aos casos de grandes proporções, que chegam ao conhecimento da imprensa. Levando-se essa variável em conta, pode-se considerar que o número de mortos e feridos é maior do que o apresentado neste levantamento.


O promotor Luiz Alcântara, do Ministério Público do Estado do Ceará (MPE), garante que os acidentes com veículos escolares são ainda mais frequentes, pois somente uma pequena parte é divulgada nos jornais. Para ele, “em praticamente todas as cidades” do Interior do Ceará trafegam veículos irregulares no transporte de crianças: “A regra é o caminhão [pau de arara], a exceção é o transporte organizado”.


Para Alcântara, “noventa por cento das empresas que participam das licitações não têm veículos para locar”, subcontratando outras pessoas, transformando o serviço em uma terceirização da terceirização. Ele afirma que as licitações não exigem “requisitos mínimos” para o transporte escolar, “tudo o que não presta serve para transportar estudantes”.


Atuando na Procuradoria de Crimes contra a Administração Pública (Procap), Luiz Alcântara diz que o transporte escolar é uma “moeda política”, possibilitando o mau uso de recursos. Segundo ele, os desvios ocorrem com o favorecimento nas licitações, sobrepreço e “aumentando-se artificialmente o trajeto dos veículos, que são pagos por quilômetro rodado”.


Eliane Brasileiro (PRB), presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece) discorda do promotor. Segundo ela, “tudo é fiscalizado” pelos órgãos competentes, impedindo possíveis irregularidades.






Contas


O promotor Herton Cabral, que atua na cidade de Russas, resolveu fazer algumas contas. Ele somou o valor despendido pela Prefeitura da cidade, durante cinco anos (2007 a 2011), para transportar quatro mil alunos, chegando ao valor de R$ 6.955.788,16 - cerca de R$ 1,4 milhão por ano.


Com esse montante, segundo Herton, seria possível à Prefeitura fazer uma programação e, em três anos, substituir todos os veículos irregulares por transporte adequado.


A medida é ainda mais factível, segundo o promotor, pois o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem linha especial de crédito para a compra de veículos padronizados para o transporte escolar, o programa Caminho da Escola.


Os prefeitos ainda dispõem de outro benefício: a cada ônibus comprado, o governo do Estado doa outro (até o limite de cinco veículos), sem nenhum custo ao município. Herton diz que o mesmo estudo feito para Russas pode ser aplicado à maioria das cidades.


A secretária da Educação do Ceará (Seduc), Izolda Cela, evita opinar sobre os números levantados pelo promotor. Para ela, os “desafios” para solucionar o problema são grandes, e diz haver esforço das administrações municipais para superá-lo.


Entende, porém, que com os repasses do governo federal, do governo estadual, investimento das próprias prefeituras e “gestão eficiente” dos recursos, seria possível atender os estudantes “com nível suficiente de segurança e comodidade”. Mas ressalva que para transformar todo o transporte escolar rural no Ceará em “padrão de qualidade” seria necessário “muito mais dinheiro”.


Segundo dados da Seduc, o valor do repasse para o transporte escolar nos municípios subiu de R$ 30,367 milhões (2006) para R$ 70,819 milhões (2010), considerando-se recursos dos governos estadual e federal.



ENTENDA A NOTÍCIA

O transporte irregular de estudantes é prática comum nas cidades do Interior do Ceará. Os veículos conhecidos como paus de arara são os mais usados. A prática ilegal submete crianças e adolescentes a perigos diários.

Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br