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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Corrida para garantir emprego

Celina Lima avalia que a preocupação do Estado em melhorar seus quadros já começa a ser observada
Serviço público - Publicado em 24 de outubro de 2011 

Sociólogas alertam que Estado precisa fazer seleções mais rigorosas para garantir qualidade ao serviço que oferece

A estabilidade oferecida pelo serviço público tem feito com que milhares de cearenses optem por concursos do Estado. Mesmo aqueles certames para cargos que envolvem altos riscos têm revelado expressivas concorrências. Somente para o concurso de agente penitenciário, lançado pela Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará (Sejus) neste ano, foram computadas 25.762 inscrições, sendo 5.984 delas feitas por mulheres.

Os riscos são muitos, mas não tem intimidado os candidatos. A concorrência do concurso estadual para agente penitenciário, cujas inscrições foram encerradas no último dia 5 de outubro, é de 32 candidatos por vaga. Ao todo,19.778 homens e 5.984 mulheres se inscreveram, em busca de uma remuneração de R$ 1.933,37 e alguma estabilidade trabalhista.

Segundo os dados apresentados pela Sejus, o Ceará dispõe atualmente de 756 agentes penitenciários para dar conta de um universo de 16.191 presos, o que confere a média de um agente para cada grupo de 21 presos.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Agentes Penitenciários e Servidores Públicos no Sistema Penitenciário do Ceará (Sindasp-CE), Antônio Abreu, a profissão de agente penitenciário é uma das mais estressantes por conta dos riscos inerentes à atividade. "Nós somos constantemente ameaçados por quadilhas, sofremos assédio moral. Os riscos são muitos, mas o grande atrativo é a oportunidade de ter um emprego fixo e um salário um pouco melhor", explica.

Conforme Antônio Abreu, apesar de ser grande o número de inscritos em concursos para agentes penitenciários, também é considerável a evasão de profissionais diante das condições de trabalho. "Muitos fazem o concurso, mas desistem por pressão da família. Tem muita gente que não aguenta a pressão e os riscos", salienta. Para ele, isso acontece porque a maioria dos candidatos não pensa nos riscos da profissão na hora de fazer o concurso, mas apenas na estabilidade e no salário.

Prejudicial

A socióloga Celina Lima acredita que as condições trabalhistas oferecidas pelo setor privado impulsionam, indiretamente, o interesse pelo serviço público, que oferece maior estabilidade. No entanto, avalia, o fato de as pessoas estarem mais preocupadas com essa estabilidade no emprego do que propriamente com a atividade que exercerão pode ser prejudicial ao serviço público prestado.

"Em um concurso como este de agente penitenciário, por exemplo, as pessoas muitas vezes não se preocupam em qual será o seu papel, mas sim com a garantia do emprego fixo. Eu acho que isso é preocupante principalmente quando se trata do agente porque não é uma função simples. É uma atividade que você deve ter um preparo maior. A pessoa precisa estar realmente disposta a assumir o cargo", esclareceu.

Qualidade

Indagada se o Estado tem se empenhado na seleção de seus funcionários para garantir um serviço público de qualidade, Celina Lima avaliou que uma maior preocupação nesse sentido já começa a ser observada. Citando o concurso para agente penitenciário, ela explica que a Sejus, por exemplo, já realiza cursos de capacitação e uma seleção mais extensa para melhorar os quadros de servidores.

Conforme a socióloga Celina, em geral, a solução para melhorar o serviço público prestado em diversas áreas é que o Estado busque, cada vez mais, mecanismos para avaliar e selecionar seus funcionários. "O que pode-se fazer é o que já começa a ser observado: essa preocupação em formar aprovados e realizar seleções mais longas, que vão além do concurso", opina, afirmando que isso não assegura a contratação de bons profissionais, mas aumenta as chances.

De acordo com Celina Lima, processos seletivos mais cuidadosos se tornam ainda mais importantes com a existência dos chamados "concurseiros" nos dias de hoje. "Esses, antes de sair o edital, já começam a preparação. Como dá estabilidade, muita gente procura, mesmo sem saber direito a função que exercerá", afirma Celina.

Segurança

A socióloga Maria Neyara de Oliveira avalia que a principal motivação para as pessoas buscarem os concursos públicos em geral é a expectativa de que esse tipo de emprego dê segurança para a vida toda. "A sociedade criou uma coisa que a gente chama de estado do bem estar", explica. Ela aponta que, na hora de escolher a opção do concurso público, primeiro conta essa busca pela estabilidade e depois a ideia de que o Estado não é patrão e de que a gerência de trabalho é mais democrática.

Para Neyara, têm crescido a demanda no serviço público, a realização de concursos e, consequentemente, a qualificação do servidor. Na sua análise, isso faz com que o problema do risco inerente a alguns cargos fique para segundo plano. "Risco por risco, você escolhe o menor. Eu não conversei com os candidatos sobre isso. Mas entre ter um trabalho arriscado e o risco de ficar sem trabalho, talvez as pessoas optem por ter um trabalho", declara.

Além disso, salienta a professora, ainda está no universo simbólico popular a falsa ideia de que o servidor público trabalha menos. Neyara destaca ainda que o concurso público é algo relativamente novo, que vem crescendo no Brasil nos últimos 20 anos. "No Brasil, falta gente pra trabalhar na saúde, na educação, na segurança. Então, ultimamente houve muito concurso inclusive para que o Estado volte a ter presença maior na sociedade, cumprindo com seus deveres", explica a socióloga.

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