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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MEC cancela provas do Enem de 639 estudantes


Colégio christus - Publicado em 27 de outubro de 2011 

Eles poderão refazer as provas nos dias 28 e 29 de novembro, a mesma data dos candidatos presidiários

Alunos do Colégio Christus, no Ceará, estão no centro dos escândalos de possíveis fraudes e vazamentos de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Ministério da Educação (MEC), anunciou, na tarde de ontem, o cancelamento definitivo das notas e das provas de todos os 639 alunos da instituição privada que fizeram os testes no último fim-de-semana.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), organizador do Enem, irá entrar em contato com os estudantes envolvidos para oferecer a possibilidade de refazerem os testes nos próximos dias 28 e 29 de novembro, na mesma data dos presidiários.

Pelo menos nove questões, disponíveis aos estudantes do Christus, estavam idênticas às aplicadas nos exames oficial, o que configuraria, no entender do Inep, um crime, uma quebra de isonomia entre as partes.

Cada uma das provas refeitas trará um gasto para a escola de, no mínimo, R$ 45 por aluno, um total de cerca de R$ 28 mil para a cobertura das despesas.

Possíveis sanções

Os rastros de irregularidades foram identificados na última terça-feira, quando dezenas de pré-universitários do Colégio Christus soltaram na nas redes sociais da internet as tais "coincidências" de nove questões publicadas tanto no caderno oficial do Enem quanto em uma apostila distribuída pelo Christus, segundo os próprios alunos, cerca de três semanas antes do Enem.

De acordo com o MEC, as condições de segurança das provas foram checadas e mantidas em todo País, sendo descartada assim a possibilidade de vazamento total.

Isso tudo foi apenas um mote para a tomada de decisão final do MEC que julgou, em nota, que o ocorrido configura uma quebra de isonomia e informa, ainda, que possíveis sanções contra o colégio ou seus proprietários vão depender da conclusão das investigações da Polícia Federal (PF). O texto aponta ainda que, "em caso de envolvimento da instituição ou de terceiros, o Inep manifesta desde já sua intenção de processá-los civil e criminalmente".

A fim de tratar com rigor vazamentos de questões, o MEC protocolou, ontem, o pedido de investigação do caso à Polícia Federal. O órgão federal anunciou que a denúncia está em fase de levantamento prévio dos fatos até que haja confirmação ou não de fraude contra o Enem.

Veja entrevista com procurador que constatou irregularidade no Enem 


 
O Ministério Público Federal (MPF) do Ceará também entrou na briga e informou que irá impetrar Ação Civil Pública questionando a anulação e exigindo que o certame seja cancelado em sua integridade. Para tal, o MPF encaminhou, ontem, uma recomendação ao MEC e ao Inep. Se não for aceita, o MPF tentará pedir a suspensão na Justiça. "Não são questões só parecidas, são questões idênticas. Isso sugere o vazamento da prova. Isso viola a igualdade do concurso e compromete a lisura do certame", explicou o procurador Oscar Costa Filho.

O presidente da Comissão de Educação e Cidadania da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Ceará (OAB-CE), Edimir Martins, comentou que a decisão do MEC seria inconstitucional. "E os alunos do Christus que não tiveram acesso ao caderno? Certo seria cancelar tudo. Quem deve ser penalizado não são os alunos, mas quem provocou a falha, o erro ou a fraude. O sentido do Enem é ser universal, igual para todos", frisou.

Defesa

Em nota de esclarecimento, a direção do Christus informou que as mesmas questões foram usadas em pré-testes realizados pelo Ministério da Educação entre 2009 e 2011. Uma das linhas de investigação da PF é de que um funcionário do colégio teria subornado um fiscal que aplicou questões do pré-teste na escola e copiado o caderno.

A escola disse manter um banco de questões formado a partir de sugestões de professores, alunos e ex-alunos. "O banco pode ter sido integrado por questões sugeridas pelos alunos que fizeram o pré-teste sem que a escola tenha tido conhecimento sobre os dados", afirma a nota.

Perguntas sem resposta

1. Como o Colégio Christus conseguiu acertar pelo menos nove questões entre centenas que compõem o banco do Enem?
2. Se a falha foi mesmo no pré-teste, quem copiou as questões e repassou à escola?
3. Estudantes de outros colégios podem ter tido acesso ao simulado com as questões antecipadas?
4. Houve falha no pré-teste em outras escolas?
5. Pode ter havido falha em outro momento que não o pré-teste?

FALHAS
Problemas em outras edições

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também registrou problemas nos dois últimos anos. Em 2010, a prova amarela teve erros de impressão, o que fez com que alguns estudantes marcassem as respostas no campo errado.

O caderno amarelo com as provas de ciências humanas e ciências da natureza, aplicado no dia 6 de novembro, tinha perguntas repetidas, fora da sequência e algumas questões de um outro modelo aplicado, a prova branca. Na folha de respostas, os cabeçalhos que indicaram as áreas de conhecimento estavam invertidos, na comparação com o caderno de questões.

O Ministério da Educação (MEC) informou, na época, que a orientação era seguir a ordem numérica das questões, mas alguns alunos afirmam que não receberam a recomendação e, por isso, preencheram o gabarito de forma invertida.

Devido ao ocorrido, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) convidou 9.500 estudantes para fazer a nova prova, mas a maioria faltou - a abstenção foi de mais de 50%.

Já na edição do Enem de 2009, quando estreou o novo formato do exame, exemplares da prova foram roubados. A fraude adiou a realização do teste, que acabou marcado por abstenção recorde e erro no gabarito oficial. Em agosto deste ano, a Justiça condenou por corrupção passiva e violação de sigilo funcional quatro dos cinco envolvidos no furto e vazamento da prova.

O vazamento prejudicou cerca de quatro milhões de inscritos e tumultuou todo o calendário de vestibulares do fim de 2009 e início de 2010. O gasto com a reimpressão das provas do Enem foi estimado em 30% do valor da licitação, que foi de R$ 148 milhões, segundo o MEC. Em consequência do vazamento, o então presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, pediu demissão.

Neste ano, 1.100 candidatos foram informados por telefone que o local da prova indicado no cartão de confirmação de inscrição estava errado. Segundo o Inep, o problema atingiu apenas candidatos do Rio e consistiu em um erro de digitação.

TODOS OS enunciados idênticos aos da prova do Enem publicados pelo Colégio Christus foram referentes às provas amarelas. No primeiro dia do exame, 23 de outubro (sábado), as perguntas 87, 46, 50, 74, 57, 34, 33, 32 estavam iguais as do simulado do colégio. Já no segundo dia, 24 de outubro (domingo) foramas questões 113, 180, 141, 173 e 154

REGINA PAZ E IVNA GIRÃO
ESPECIAL PARA CIDADE/REPÓRTER


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